Ir para pagina inicial do Passarinhando---Ir para pagina de Fotos do Passarinhando---Ir para pagina de Vídeos do Passarinhando

A dança do Tangará [Chiroxiphia caudata]


fonte(vídeo):Multiply do guilherme


fonte(vídeo):Multiply da chris

De colorido exótico este pássaro pode ser encontrado em 25 variedades no Brasil.
Habitando desde o México até o norte da Argentina e, principalmente, as regiões em que não sofreram depredação do homem, o Tangará é um pássaro típico das matas virgens e tropicais. Por isso, ele não poderia deixar de estar muito bem representado nas florestas do Brasil, onde pode ser encontrado de Roraima ao norte do Rio Grande do Sul.
De colorido berrante, os machos, dependendo da espécie, têm plumagem em cores vermelhas, brancas, azuis e verdes, embora a tonalidade básica para todos seja preta. As fêmeas, mais discretas, são logo reconhecidas pela colaboração verde-oliva que, parecida com a da mata, lhes dá aspecto delicado e singelo. No entanto, quando jovens, todos os exemplares de Tangará são verdes, podendo por isso mesmo ser tomados como fêmeas – o que só evitando a partir de 1 ano de idade, quando cada um começa a apresentar a cor respectiva de seu sexo.
Com exceção da espécie Cristudo, que alguns criadores consideram ter um belo canto, as outras espécies de Tangará não gorjeiam melodiosamente. Contudo, a natureza parece ter reservado, para algumas delas, um outro tipo de atributo que, hoje, é apontado com grande destaque: a maneira exótica e divertida pela qual a maioria dos machos tentar atrair as fêmeas, que, algumas vezes, se dá através de uma verdadeira festa, onde os dois sexos, invariavelmente, estão presentes. É o caso, por exemplo, do Tangará Dançarino (Chiroxiphia caudata), uma espécie atraente e, talvez, a mais famosa. Além do corpo bonito, de cor azul turquesa, esta ave traz um topete vermelho-escarlate que lhe cai graciosamente na cabeça. A forma com que os machos e fêmeas se aproximam também é peculiar. Os machos se alinham na mesma direção e sobre o único galho. Antes, porém, providenciam no chão um círculo limpo e livre de folhas. Isto feito, o primeiro da fila sobre o galho desce até a "arena" e exibe sua beleza através de danças e movimentações harmoniosas. As fêmeas que, em geral, estão espalhadas em diversas árvores, cabe assistir à exibição. De repente, uma delas desce até o círculo, emparelha-se com o macho escolhido e os dois coam para outra árvore. Desta vez, cabe ao casal assistir ao espetáculo, até que termine. E, assim, consecutivamente, esses Tangarás formam seus pares.
O Brasil conta, hoje, com 25 espécies de Tangará, sendo que as da região sul são um pouco maiores que as do norte. Fato que é explicado através da seleção natural, pois é comum que pássaros de regiões frias desenvolvam-se mais que os das regiões quentes.
Entre as espécies mais populares do sul do país, temos, além do Tangará Dançarino, o Cristudo (Anthilofia galeata). De coloração predominantemente preta aveludada, ele é esguido, sendo muitas vezes considerado como o mais elegante, dos Tangarás. Acima do nariz, este pássaro traz uma crista em forma de ponta que movimentando-se constantemente, lhe dá um "ar" pitoresco e ativo. É cantando alto e sonoramente que, com muita autoridade, demarca seu território
fonte texto:(familiapet)

A DANÇA DOS TANGARÁS (A lenda)

Todas as lendas têm a sua origem na vida real e são um reflexo do nosso espírito. As florestas estão cheias de abusôes e fantasmagorias, criados pela idéia sempre inventiva dos nossos caboclos. Até as danças serviram de pretexto à invenção de umas das lendas mais interessantes do Paraná. Floriu na marinha. Em Guaraquessaba.

Certa vez, um viajante foi até aquela vila. Sol a pino. Desembarcando da frágil canoa, o canoeiro seguiu abrindo caminho na floresta, por um carreiro ziguezagueante. Reinava em tudo um grande silêncio, o silêncio modorrento da canícula.

O viajante ia atrás admirando a paisagem e a pletora da floresta cerrada. Iam silenciosos, quando de repente o canoeiro parou e fez sinal de cautela ao companheiro, para que pisasse sem ruído. Que seria? Pé ante pé, o excursionista veio vindo, veio vindo, e nove passarinhos de cor azulada e crista vermelha trinavam e bailavam nos galhos de uma árvore quase desfolhada. Um dos pássaros, - o chefe, estava pousado no ramo superior, e executava, harmoniosamente, um canto suave, com as penas encrespadas pela volúpia da modulação, a cabecita esticada, o bico entreaberto.

Quanto terminou este solo, romperam os outros em coro.

Houve, depois, um descanso rápido, em que os orquestrantes começaram a saltitar, de dois em dois, numa espécie de quadrilha. A um apelo do chefe, retomaram os seus lugares.

Recomeçou o chilreio, pondo-se o chefe a bailar, indo e vindo de um galho para outro. Enquanto isto, os bailarinos voavam, cantando, uns por cima dos outros, revezando-se, de modo que os primeiros ficavam atrás dos últimos, e estes atrás dos primeiros. Era um encanto vê-los!...

Curioso, o viajante quis ver de mais perto a dança. Mas fez ruído. E com isso os pássaros fugiram, de súbito.

- Que passarinhos são estes? – indagou o romeiro, apontando para o rumo em que eles desapareceram.

- O povo chama de Tangarás – informou o canoeiro – mas pro sinhô eu vô contá: São os fios do Chico Santos.

O viajante não entendeu o significado daquela revelação, e inquiriu:

- Filhos de quem?

- Eu lhe conto o causo – disse o caboclo, acendendo o seu cachimbo – Não vê que havia dantes nestes matos uma família de dançadores. Eram os fios do Chico Santos. Que gente prá gostá de dança! Dançavam por nada. Fandangueavam até nas roça, interrompendo o trabaio. Batiam os tamanco no chão quasi todas noite. Uma veis, meu sinhô, távamo na Semana Santa! Pois não é que a rapazaiada inventô de fazê um fandango? E feis. Dançaram inté de manhã. Mas Deus, que vê tudo, castigô os dançarinos. E sabe o que feis?

- Deu a bexiga nos fios dos Chico Santos. E cada um que ia morrendo, ia virando passarinho. E agora andam por aí cumprindo o seu fado... O meu avô sabia dessa história, por isso nóis nunca dançamos na quaresma.

E concluiu, num longo suspiro de piedade:

- Quem mandô eles dançarem na Semana Santa?"

(Ofir Leite in CASCUDO, Luís da Câmara. Geografia dos Mitos do Brasil)